Um conto aleatório
Uma
casa azul
por
Caio Augusto da Silva Pereira
Era uma vez, uma família pequena de seres baseados em carbono. Eles
estavam tristes, pois não tinham um lugar para chamar de lar. Uma
jovem senhora chamada Natureza, vendo toda aquela tristeza, os
convidou para morar com ela em sua casa azul. A Natureza não tinha
filhos, então poderia dar toda a atenção necessária para seus
convidados. A casa não era das melhores mas tinha muitos quartos
vagos e a Natureza os deixou escolher em qual ficar. Muitos anos se
passaram e os seres de carbono cresceram, tiveram filhos, netos,
bisnetos, todos bem diferentes de seus antepassados.
A mais
promissora deles era a Humanidade, em pouco tempo de nascida já
tinha feito ferramentas, aprendeu a conviver com seus irmãos mais
velhos e Natureza gostava muito da companhia de sua amiga. No
entanto, nada do q a natureza fizesse satisfazia os desejos da
Humanidade e cada vez mais elas se distanciavam. Ficaram tão
distantes que a Humanidade passou a achar que era a dona da casa.
Quando a Humanidade cresceu se tornou uma jovem bem rebelde, passou a
explorar os irmãos e invadir seus quartos alegando que tudo aquilo a
pertencia. A Natureza em sua grande sabedoria percebeu que deveria
intervir e para ensinar uma lição a Humanidade permitiu que sua
inquilina permanecesse lá. Natureza deixou a casa que construíra
com muito esforço deixando a Humanidade no comando, mas sempre
passava em frente na esperança de vê-la restaurada.
Alguns dias
depois, enquanto passava em sua rua, Natureza viu algo voando em
direção a sua antiga casa azul e resolveu ver o que estava
acontecendo. Ao chegar a seu antigo endereço ela viu sua casa em
ruínas, mal podia reconhecê-la, ela perguntou a Humanidade o que
eles haviam feito com seu antigo lar, mas não teve resposta alguma.
A Humanidade estava muito admirada com a grandeza de sua nova
invenção. Era um objeto de metal cilíndrico e pontudo que se
projetava aos céus muito rápido. Quando a Humanidade percebeu a
presença de sua amiga fez questão de contar tudo sobre as suas
intenções para aquela invenção, mas a Natureza estava muito
irritada e decepcionada. A Humanidade usou várias de suas invenções
para acalmar a Natureza, mas nada adiantou. Natureza reuniu toda a
sua ira e esbravejou sobre a Humanidade tudo o que guardava no
coração durante todos aqueles anos. Então a Humanidade se encheu
de orgulho e resolveu subir em sua invenção que chamara de
“foguete” e disse que construiria seu próprio lar em outro lugar
pois não precisava de favores da Natureza.
Muitos anos se
passaram desde a briga entre as duas amigas. A Natureza havia
reconstruído sua casa e conviveu com os irmãos da Humanidade em
paz, até o dia em que viu alguém muito triste se aproximando de sua
casa. Como era muito solidaria, foi até aquele ser tristonho e o
trouxe para casa. Era uma senhora bem velha, estava suja e fraca.
Natureza deu-lhe um banho, comida e disse que, se ela não tivesse um
lar, poderia morar lá para sempre. A senhora ficou surpresa, pois
não achou que depois de tantos anos sua amiga a perdoaria. Natureza
e Humanidade conversaram por horas sobre tudo que elas passaram
enquanto estavam separadas. Foi então que a Humanidade perguntou a
razão de construir uma casa igual a anterior e sua amiga explicou
que tinha certeza que ela voltaria, pois, no fundo, a Humanidade
sabia que a Natureza era a melhor construtora e não há outro lar
melhor que sua casa azul.
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